sexta-feira, 29 de outubro de 2010

JESUS ANDANDO SOBRE AS ÁGUAS (Jo 6.16 a 21)

“Os outros evangelistas explicam a causa desse medo ter sido que eles pensavam que era uma aparição, (Mateus 14:26;. Marcos 6:49). Como escreveu C.S. Lewis sobre o numinoso:
“Os que não conhecem este termo podem entendê-lo mediante o seguinte artifício. Suponhamos que lhe dissessem que havia um tigre no cômodo ao lado: você saberia que estava em perigo e provavelmente sentiria medo. Mas se lhe dissessem que "há um fantasma no quarto ao lado" e você acreditasse, sentiria com certeza o que é geralmente chamado de medo, mas de um tipo diferente. Seu sentimento não teria como base a idéia de perigo, pois ninguém tem praticamente medo do que um fantasma pode fazer-lhe, mas o simples fato de tratar-se de um fantasma. Ele é "misterioso" em lugar de perigoso, e o tipo especial de medo que provoca pode ser chamado de pavor. Com o misterioso chegamos às fronteiras do numinoso. Suponhamos agora que lhe dissessem simplesmente: "Existe um espírito poderoso nesta sala" e você acreditasse. Seus sentimentos seriam então ainda menos parecidos com o mero receio do perigo: mas a perturbação seria profunda. Você ficaria espantado e gostaria de recuar - um sentimento de insuficiência para enfrentar tal visitante e de fraqueza diante dele - emoção essa que poderia ser traduzida nas palavras de Shakespeare: "Sob ele o meu gênio é reprovado". Este sentimento pode ser descrito como reverência, e o objeto que o desperta como o numinoso.” (C.S. Lewis, The Problem of Pain, 2 ed.1986 p. 5)

Ora, é impossível não ser tomado de consternação e terror, quando uma aparição se apresenta diante de nossos olhos; pensa-se logo que é ou assombração, ou algum mau presságio que Deus nos envia. Além disso, João apresenta aqui fora para nós, como em um espelho, que tipo de conhecimento de Cristo podemos obter de uma aparição sem a palavra, e que vantagem pode ser colhida a partir desse conhecimento. Pois se ele apresentar uma simples demonstração de sua divindade, imediatamente provoca a nossa imaginação, e cada um pode fazer um ídolo para si mesmo, ao bel-prazer da livre interpretação imaginária, o qual pode tomar o lugar de Cristo. Em conseqüência disso, vamos vaguear em nosso entendimento, poderemos ficar imersos no tremor e terror que confundem o nosso íntimo. Mas quando Jesus começa a falar, a sua voz clara gera sólido conhecimento, e depois também traz a alegria e a paz do amanhecer delicioso em nossas mentes.
Há um grande peso nestas palavras: “Sou eu: não vos assusteis.”(Mt 14:27) Aprendemos com isso que, estar na presença de Cristo e diante de sua palavra é a razão suficiente para termos confiança em abundância, de modo a ficarmos calmos e seguros. Mas isso pertence exclusivamente aos discípulos de Cristo; vamos ver depois que os homens ímpios foram derrubados pelas mesmas palavras: “Sou eu”, ( João 18:06). A razão da distinção é que ele é enviado como um juiz de réprobos e incrédulos para a sua destruição, e, portanto, não podem suportar a sua presença, sem serem imediatamente oprimidos. Mas os crentes, que sabem quem ele é, logo que ouvem a sua palavra, que é uma garantia segura para eles tanto do amor de Deus como da sua salvação, são encorajados, como se tivessem sidos levantados da morte à vida, com confiança para olhar o céu claro, habitar seguro na terra, e ser vitorioso sobre todas as calamidades, tendo Cristo como seu escudo contra todos os perigos desta vida. Jesus não só traz o conforto e ânimo pela sua palavra, mas realmente elimina também a causa do terror dissipando as tempestades.”

Rev. Alcimar Dantas Dias

Referências:
- John Calvin ,Commentary on the gospel according to john.
- C.S. Lewis, The Problem of Pain.

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