sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Comentário de Calvino sobre a multiplicação dos pães. (Jo 6. 1 a 13)

“Aqui vemos como ansioso era o desejo daquelas pessoas de ouvir a Cristo, pois todas elas, esquecendo-se delas mesmas, não demonstraram nenhuma preocupação em passar a noite em um lugar deserto, se necessário fosse. Estão todas ávidas por ouvir atentamente todas as palavras que saiam da boca do Senhor Jesus.

Tanto menos indesculpável é a nossa indiferença, ou melhor, a nossa preguiça, quando estamos tão longe de preferir a doutrina celeste ao gemido da fome física, que as menores interrupções imediatamente levam-nos para longe da meditação sobre o céu e a vida. Muito raramente acontece que Cristo nos encontra livre e desprendido dos embaraços do mundo. Raramente estamos prontos para segui-lo por um deserto, antes preferimos tê-lo em nossas casas em meio ao conforto. Não estamos interessados em sair dessa zona de conforto pessoal. Embora esta preguiça predomine em quase toda a totalidade da humanidade, é certo que nenhum homem estará apto para o reino de Deus até que, aparte-se das preocupações com este mundo e busque com intenso desejo o alimento da alma de forma muito fervorosa.

Mas, como a carne nos convida para atender suas conveniências, nós também devemos observar que Cristo, por vontade própria, cuida daqueles que, esquecendo-se de si mesmos , decidem segui-lo. Pois Jesus não espera até que sejam famintos e gritem que estão perecendo de fome sem nada para comer, mas ele fornece o alimento antes mesmo que lhe peçam isso.

Pode parecer que isso não aconteça sempre. Por vezes, pessoas piedosas, embora tenham sido inteiramente dedicadas ao reino de Deus, estão exaustas e quase desmaiando de fome. Se Cristo tem o prazer de experimentar a nossa fé e paciência dessa maneira, do céu ele contempla nossas necessidades, e tem o cuidado de nos socorrer, tanto quanto for necessário para nosso bem-estar, e quando a assistência não é concedida imediatamente, isso acontece por uma melhor razão, oculta de nós, mas sendo vista e observada pelo Senhor para realização dos seus propósitos.”

(Commentary on the gospel according to John, by John Calvin, pp 200 e 201, Traduzido pelo Rev. Alcimar Dantas Dias)

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