sábado, 18 de setembro de 2010

Provérbios

Desde tenra idade, comecei a ter contato com os Provérbios de Salomão e isso despertou em mim, o interesse pela grande alusão à Sabedoria que é feita no referido livro.

Propomo-nos, neste trabalho, a analisar os provérbios de Salomão dentro do contexto da teorização da sabedoria e do conhecimento, na perspectiva das Tradições Discursivas, sabendo que a Língua está relacionada com o texto e com as práticas sociais. Pretendemos assim, fazer uma análise dos enunciados encontrados nos escritos salomônicos, investigando contribuições teóricas que podem surgir na trajetória da Tradição Retórica para a Tradição discursiva, considerando o que escreveu Michel Foucault :

“um enunciado é sempre um acontecimento que nem a língua nem o sentido podem esgotar inteiramente. Trata-se de um acontecimento estranho, por certo: inicialmente porque está ligado, de um lado, a um gesto de escrita ou à articulação de uma palavra, mas, por outro lado, abre para si mesmo uma existência remanescente no campo de uma memória, ou na materialidade dos manuscritos, dos livros e de qualquer forma de registro;” (Michel Foucault, 2008, p.31)

Salomão por certo, teria a mesma impressão sobre um enunciado quando afirmou em Pv. 18:4 “Águas profundas são as palavras da boca do homem, e a fonte da sabedoria, ribeiros transbordantes.” Considerando “enunciado” como sendo um conjunto de idéias que, em contexto, dão sentido ao discurso, percebemos que Salomão e Foucault concordam com a complexidade e profundidade das palavras ditas ou escritas com sabedoria as quais não podem ser esgotadas nem pela língua nem pelo sentido. Não podem ser esgotadas porque são como águas profundas, com muitas coisas para serem observadas e analisadas.

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira em seu Novo Dicionário da Língua Portuguesa, apresenta a seguinte definição para provérbio [Do lat. proverbiu] s.m. : “Máxima ou sentença de caráter prático e popular, comum a todo um grupo social, expressa em forma sucinta e geralmente rica em imagens; adágio, ditado, anexim, refrão, rifão...”

Provérbios enquanto forma nova de falar e escrever surgiu a partir da consideração de que períodos longos, e argumentos inverossímeis, deveriam ser trabalhados e transformados em pequenas sentenças para serem melhor entendidos e memorizados uma vez que rapidamente apreendidos, tornavam-se facilmente retidos.

Mashal, que é o termo hebraico usado para provérbio, vem de uma palavra que significa determinar ou ter domínio, por causa do poder que os ditados sábios exercem sobre os homens; “Dominatur concionibus” , expressão latina que significa (determina o seu auditório). Grande quantidade de máximas e preceitos - sentenças proverbiais foram atribuídas aos Sete Sábios da Grécia. Algumas eram tão famosas que foram inscritas no templo de Apolo em Delfos. Importante lembrar que os sete homens sábios da Grécia estavam ligados com a administração pública. Os provérbios eram assim usados por aqueles que geralmente exerciam domínio. Um ditado velho poderia ir muito longe na formação de suas noções e na fixação de suas resoluções. Muito da sabedoria dos antigos foi transmitida à posteridade por provérbios e há quem pense que podemos julgar o temperamento e caráter de uma nação pela aparência de seus provérbios populares.

Os provérbios de Salomão foram vistos e recebidos pelo povo judaico não apenas como uma coleção dos ditados sábios que anteriormente lhe tinham sido transmitidos, como alguns imaginaram, mas como os ditames de Deus revelados de forma inédita. O primeiro deles (Pv 1. 7) “O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.” concorda com o que Deus disse ao homem no começo. “Vejam, o medo do Senhor, isto é, a reverência ao Senhor, o respeito a Ele, a consideração de sua divindade e Suficiência em amor é o princípio da sabedoria;” (livre tradução). A sabedoria aqui falada significa a arte de colocar em prática o conhecimento adquirido. Sabedoria também revelada no domínio lingüístico, na arte de falar de forma apropriada e na hora certa. Sabedoria que Salomão teve de se utilizar do gênero literário proverbial para tornar popular os valores éticos e morais da sua tradição religiosa.

Embora Salomão fosse grande, e o seu nome bem conhecido, ele era sábio para reconhecer a existência de um maior do que ele e que estava acima de tudo e de todos, que era o Deus de seus pais. E, quando Salomão fala ao seu filho ,( Pv 1: 10) “Filho meu, se os pecadores procuram te atrair com agrados, não aceites.” a exortação é direcionada a todos os seus descendentes, como à crianças aprendizes na escola da Vida. Percebe-se assim, a trajetória das vozes nas Tradições Discursivas que estão latentes em todas as manifestações discursivas do ser humano e que aqui vem formar o objeto na nossa investigação no contexto dos Provérbios Salomônicos.
Pr. Alcimar

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